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Edital difícil de entender? Como interpretar licitações sem cair em armadilhas jurídicas

  • Foto do escritor: Alan Henrique Bohn
    Alan Henrique Bohn
  • 5 de ago.
  • 3 min de leitura

Empresários que tentam vender ao poder público enfrentam uma barreira que aparece antes mesmo da proposta ser enviada: a interpretação do edital. Documentos longos, técnicos e muitas vezes contraditórios, os editais são frequentemente vistos como obstáculos — quando, na verdade, deveriam ser a porta de entrada para uma oportunidade de negócio.


Não é raro que uma empresa deixe de participar de uma licitação apenas por não entender exatamente o que está sendo exigido, ou pior: que participe e seja desclassificada por falhar em um ponto mal compreendido.


Este artigo apresenta uma abordagem objetiva para ajudar empresários a ler e compreender editais com segurança, evitando erros que podem custar tempo, dinheiro e reputação.


O que é o edital e por que sua leitura é tão crítica

O edital é o instrumento que rege a licitação, ou seja, ele define:

  • O que está sendo contratado (objeto);

  • Quem pode participar (condições de habilitação);

  • Como a Administração irá julgar as propostas (critérios);

  • Como será a execução e os prazos contratuais.


No entanto, é comum que essas informações estejam espalhadas em anexos, redigidas em linguagem técnica ou até contenham exigências contraditórias. O empresário precisa entender que o edital tem força normativa dentro da licitação — ele cria obrigações e regras que não podem ser ignoradas.


As partes do edital que merecem atenção redobrada

  1. Objeto da contratação – Qualquer ambiguidade ou termo genérico deve ser confrontado com os anexos técnicos. Erros aqui podem fazer com que a empresa ofereça um produto ou serviço fora das especificações.

  2. Critérios de habilitação – Aqui se exigem documentos fiscais, trabalhistas, técnicos e contábeis. Atenção: a ausência ou confusão em um item pode causar inabilitação.

  3. Critério de julgamento – Saber se a licitação é por menor preço, técnica e preço, maior desconto, etc., influencia diretamente na estratégia da proposta.

  4. Prazos, garantias e sanções – Muitas empresas não percebem cláusulas abusivas sobre prazos de entrega ou aplicação de penalidades desproporcionais.


Como evitar as armadilhas mais comuns

  • Leitura apressada: subestimar o edital é um erro grave. A leitura deve ser completa e, se possível, com anotações e marcações.

  • Confusão entre documentos obrigatórios e facultativos: a ausência de um documento exigido de forma genérica pode ser fatal, mesmo que a empresa esteja plenamente qualificada.

  • Desconhecimento dos termos técnicos e jurídicos: o edital usa linguagem própria. Palavras como “deverá”, “poderá”, “condicionada” e “vedado” têm peso legal e devem ser lidas com atenção.


Ferramentas legais ao alcance do empresário

Se houver dúvida real sobre o conteúdo do edital, a Lei nº 14.133/2021 permite a apresentação de:

  • Pedido de esclarecimento, que deve ser feito até 3 dias úteis antes da data da sessão pública (art. 164).

  • Impugnação ao edital, se a exigência for ilegal, desproporcional ou violar os princípios da licitação (como isonomia e competitividade).

Ambas as medidas interrompem o fluxo do certame até que a Administração se manifeste formalmente.


A importância de uma leitura estratégica

Interpretar um edital vai além da leitura literal: é preciso entender a lógica interna do documento e sua compatibilidade com a legislação vigente. Isso significa avaliar não apenas o que está escrito, mas também o que pode ser questionado juridicamente.


A leitura estratégica considera:

  • Coerência entre os anexos e o corpo do edital;

  • Exigências excessivas ou incompatíveis com o objeto;

  • Inovações que não encontram respaldo legal.


A recomendação é que empresários tenham apoio técnico-jurídico nessa etapa, sobretudo quando a licitação envolve valores relevantes ou contratações de longo prazo.


Conclusão

A dificuldade em interpretar editais é um dos maiores entraves para empresários que desejam participar de licitações públicas. Essa limitação, no entanto, pode ser superada com método, atenção e conhecimento jurídico aplicado.


Ler corretamente um edital não é apenas uma habilidade técnica — é uma vantagem competitiva. Com o suporte adequado, empresas conseguem transformar documentos confusos em oportunidades claras, seguras e vantajosas.

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Autor

Alan Henrique Bohn

Alan Henrique Bohn é advogado e consultor jurídico, com atuação consolidada em Direito Público, com foco em licitações e contratos administrativos, direito legislativo, municipalismo e direito eleitoral.

É especialista em Direito Público (PUC Minas), em Direito Eleitoral (UNISC) e em Licitações e Contratos (ELICITARI), além de mestrando em Direito Público pela Universidade Lusófona de Lisboa, Portugal.

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